Luis Gustavo - Alquimista
Depoimentos
Imagem O sentido do Natal
24.12.2016

O sentido do Natal

Desde que recebi o desafio para escrever sobre o sentido do Natal, no portal Chegou a hora, passei a refletir sobre a forma e a intensidade que daria e entregaria a esse post. Optei por escrever algo mais leve, para, de alguma forma, sutilizar a carga energética condensada que acumulamos ao longo de um ano.

Vamos esclarecer o termo Natal, que significa nascimento e, portanto, vida nova. Vale lembrar que o Natal, embora signifique nascimento, não é precisamente o aniversário do Nascimento de Jesus. O dia em que comemoramos o Nascimento desse mensageiro de fonte inesgotável e que nos move há cerca de dois mil anos é apenas uma data simbólica, escolhida por não sabermos ao certo quando ele veio a este mundo.

Naquela época, os cristãos antigos transformaram a festa do solstício do inverno na festa do nascimento do Menino Jesus para testemunhar que, através Dele, o próprio Deus veio assumir nossa história e trazer ao mundo o seu projeto de Paz, de Justiça e de Amor. Inconscientemente, o Menino Jesus fala da criança interior (muitas vezes ferida) que carregamos sempre dentro de nós, e que sente necessidade de ser cuidada e que, quando já crescida, desperta o seu próprio impulso de cuidar do outro.

Ainda sob essa ótica, podemos dizer que o Natal significa, também, que Deus não é aquela figura severa, que nos pune o tempo inteiro por tudo que fazemos de errado em nossas vidas. Não! Ele, justamente, nos envia seu Filho Jesus como uma criança, uma criança pura, que como todo SER puro, não julga. E, mais ainda, Jesus poderia ter nascido ou surgido em um local com grande poder material no mundo terreno, mas optou por nascer e viver num local extremamente simples, nos trazendo a noção de que a simplicidade nos remete ao fácil acesso às coisas que realmente importam, tal como os ensinamentos simples da prática do Amor, da Caridade, da Humildade e do Perdão que nos deixou, bem acessível a todos nós.

Podemos dizer que o Natal é uma festa de Luz e, talvez por isso, consciente ou inconscientemente, muitas famílias (com ou sem condições financeiras), iluminam suas casas, do jeito que podem. O Natal é uma festa de Fraternidade Universal. Natal é uma festa da Família reunida ao redor de uma mesa. E é nesse momento, ao redor de uma mesa, nesse momento de comensalidade, que devemos esquecer os afazeres cotidianos, “dar um tempo” para o peso que escolhemos viver nossas vidas, e amenizar as tensões entre familiares e amigos.

O genial Leonardo Boff, nos traz o significado de comensalidade como o ato de comer juntos ao redor da mesma mesa (mensa). Talvez algumas pessoas da minha geração ou de gerações anteriores ainda se lembrem desse ato de re-união familiar em torno da mesa para comer, beber e conversar juntos. Certo, sabemos que algumas pessoas, independente da geração, até conseguem manter esse ato.

Mas infelizmente, atos essenciais como esse (e muitos outros), estão se perdendo. É preciso mencionar o quanto estamos iludidos pelo consumismo (de preferência com brilho e magia, se não ninguém compra!), iludidos pela busca dos bens materiais. E assim, acabamos nos distraindo e nos distanciando das coisas essenciais, aquelas que são invisíveis aos nossos olhos, a exemplo do Sagrado e das questões profundas do SER. O espírito do Natal é exatamente o oposto desse rotina que domina nossa cultura atual e artificial, marcada por esse consumismo desenfreado. Essa rotina que esquece do SER para TER, e que hoje em dia, TEM para APARECER, e APARECE para EXISTIR… Mas essa é uma outra grande e importante discussão, para um outro momento.

Ainda dentro desse contexto cultural artificializado e de consumo, que se comunica mais com os olhos cobiçosos do que com o coração amoroso, alguns significados foram se perdendo. Esquecemos, por exemplo, do Menino Jesus, adotando no Natal a figura do bom velhinho, o Papai Noel, porque ele é mais apelativo para os negócios.

A figura do Papai Noel é a elaboração comercial de São Nicolau / Santa Claus, cuja festa se celebra no dia 6 de dezembro. Ele era um bispo, nascido no ano 281 na atual Turquia. Herdou da família uma fortuna que, na época de Natal, saía vestido de bispo, todo de vermelho, usando um bastão e um saco com presentes para as crianças. Entregava-os com um bilhetinho dizendo que vinham do Menino Jesus. Mas não vou me estender nesse tema. Ainda que alguns teimem em se focar somente no Papai Noel e seus presentes durante a época de Natal, outros entendem o verdadeiro significado e sentido desta data.

O Natal deve ser entendido pela Gratuidade, pela Doação, pela Gentileza, pela Presença inteira de um ao outro. Pela Alegria de ver uma vida nascendo, entendendo, sempre, que não pode haver tristeza quando nasce uma vida.

Em um mundo cada vez mais conflituoso, ameaçado de todas as formas e por todas as partes, devemos aproveitar esse solstício de novamente renascer e abrirmos um parênteses para dizer bem alto: “Agora não. Agora Chegou a Hora de festejarmos. Chegou a Hora de festejarmos com os olhos do Amor e do Coração e não da Razão, pois todos fomos educados a olhar com os olhos da razão. Chegou a Hora de comermos juntos e vivermos em paz. Chegou a hora de sermos todos irmãos e irmãs. Chegou a Hora de deixarmos nossas luzes brilharem e iluminarem tudo aquilo que precisa necessariamente ser transformado.

Chegou a Hora de nos tornarmos agraciados pela lucidez e pela vontade de fazer da dádiva da vida algo tão valioso, como o de incluir toda a raça humana nas boas práticas e ações que realizamos em cada momento. Chegou a Hora de nos tornarmos instrumentos de (mudança e de) construção de uma outra sociedade, uma sociedade possível. Chegou a Hora de nos tornarmos seres melhores, seres humanos de respeito e dignos de nossa missão.”

E por fim, pouco importa se o menino Jesus nasceu há 2 mil anos se Ele não nascer, hoje mesmo e todo dia, dentro de cada um de nós. O Natal é o momento onde podemos fazer renascer nosso Ser interior, nos voltando para o Bem, para o Amor, para a Caridade, que nos levará a um caminho sem volta de Bem-Estar e de Paz.

 

(Este post foi publicado por mim no portal Chegou a Hora em 25/12/2015)

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